Fotografia HDR - Quebrando o Mistério
Inaugurando o Blog, vamos falar de HDR.
Outro dia desses, mostrando algumas novas imagens ao meu impressor Fine Art, estávamos conversando sobre a forma de utilizar HDR, sem os excessos que geralmente vemos em finalizações HDR, por aí afora.
Esse é um assunto do qual gosto e estudo muito, e que tive ótimas oportunidades de experimentar nos últimos tempos, então, depois de finalizar dezenas de imagens em HDR nos últimos tempos, em especial para meu próximo projeto, resolvi trazer um pouco mais sobre esse assunto, nesse post inaugural.
Mas afinal o que é e para que serve esse tal de HDR?
HDR é uma sigla para High Dynamic Range e o conceito foi criado para resolver uma limitação que os sensores digitais possuem (o filmes também, um pouco menos, mas possuem) com relação à leitura de Latitude de Exposição.
A Latitude de Exposição é a "distância", em Pontos de Luz, entre a sombra mais escura e a luz mais clara, em uma Composição.
Vamos imaginar um cenário onde o HDR é mais necessário: Um ambiente fechado com uma janela para uma área externa, em pleno dia.
A iluminação de fora do ambiente estará bem mais clara do que a iluminação interna, mesmo em um ambiente envidraçado.
Se fizermos a fotometria na parte interna, a iluminação da parte externa muito provavelmente vai "estourar" e o sensor vai gravar um borrão branco, com pouca ou nenhuma definição. O inverso acontece se fizermos a fotometria na parte externa, colocando essa na exposição correta e escurecendo os detalhes internos.
Isso acontece porque a leitura dessa distância, a Latitude, não é feita de forma tão ampla pelo sensor, e o fotógrafo muitas vezes precisa fazer uma escolha, mirando um meio termo.
Para quem usa o Lightroom ou o ACR do Photoshop, pode por exemplo clarear as sombras e escurecer as altas luzes, para chegar a um equilíbrio. Mas existe um problema aqui, que é o fato de que, nos extremos, nem sempre teremos informações boas e um exemplo disso é a quantidade de ruído/grãos que surgem ao tentarmos clarear demais uma área de sombra. Assim, se não houver outro jeito, vale a tentativa, mas o ideal é, sem dúvida, a captação das exposições corretas, para fusão posterior em um software.
Para isso, as câmeras possuem um recurso fundamental: O Bracketing.
O Bracketing é uma configuração em que calculamos a quantidade de fotos e as distâncias em pontos de luz entre cada foto. O padrão para iniciar no estudo é utilizar 3 fotos, sendo o mais comum configurar para distâncias de 1 ponto, ou seja:
- Exposição 0 (a normal, que contempla os detalhes da maior parte da composição)
- Exposição -1 ponto (mais escura, para captar os detalhes das altas luzes)
- Exposição +1 ponto (mais claro, para captar os detalhes das sombras).
Lembrando que, em algumas câmeras (no meu caso, Canon), o Bracketing não funciona em modo Manual, então eu utilizo em modo Criativo de Prioridade de Abertura. Dessa forma, a Abertura se mantém a mesma (profundidade de campo) e as fotos serão feitas alterando a Velocidade de exposição, para mais ou menos luz.
Sim, é perfeitamente possível fazer o Bracketing na mão, em modo Manual, alterando a Velocidade em pontos diferentes e eu encorajo vocês a tentarem isso.
Outros intervalos também são possíveis, variando (na 6D) entre -3 e +3 pontos, num total de até 7 (2, 3, 5 e 7) fotos automáticas, mas... nada nos impede de fazer inúmeras amostras com intervalos de 1/3 de ponto. A questão é que, muitas vezes será desnecessário, além de consumir espaço em HD e gastar mais tempo para processar as amostras.
Comecem com 3 amostras, a 1 ponto de intervalo, evoluam para 5 amostras, a 2/3 de intervalo.
Para visualizar melhor, o exemplo abaixo segue esse padrão básico, de 3 amostras com 1 ponto de intervalo.
- Superior Esquerda: Exposição 0
- Superior Direita: Exposição -1 ponto
- Inferior Esquerda: Exposição +1 ponto
- Inferior Direita: Fusão original das 3 imagens
- Capa do Post: Fusão finalizada para início do trabalho de pós produção
Observem que, nesse caso específico, não chegamos a perder completamente detalhes de sombras e altas luzes na Exposição 0. Isso acontece porque a Latitude não está tão ampla e não chega a ser um grande problema.
Mesmo assim, é um bom exemplo.
Notem que na Exposição -1 temos um céu com mais detalhes das nuvens acima (altas luzes) e menos detalhes do deck de madeira (sombra), enquanto que em Exposição +1, temos o inverso.
O que os softwares fazem é, basicamente, alinharem as amostras e analisar quais detalhes foram perdidos para descartá-los, utilizando apenas os detalhes definidos. Assim, o software aproveita os melhores detalhes das 3 amostras, nos permitindo trabalhar na pós-produção da fusão, como no caso da fusão acima, em que temos os detalhes da exposição média, do céu mais escuro e do deck com mais ou menos a mesma luz da exposição 0, que traz detalhes suficientes.
Um detalhe muito importante para se fazer uso do HDR é que, para que facilitar o trabalho de "alinhamento" das amostras pelo software, é interessante a utilização de um tripé, para que as amostras tenham a mesma composição. Na falta de um, pode-se apoiar a câmera em algum objeto que tenha a altura e angulação necessária para a composição. Outra forma, se a Velocidade média de exposição estiver confortável, é fazer as amostras na mão mesmo, se apoiando em alguma parede, poste, etc.
Outro aspecto importante a considerar é que Luz é Luz, e Sombra é Sombra. O que torna artificial muitos trabalhos com HDR, é o fato de muita gente querer colocar Luz e Sombra na mesma intensidade de luz.
O grande mote do HDR é colocar a Luz e a Sombra em intensidades compatíveis com sua natureza, com detalhes suficientes para que possam ser apreciados, parecido com o que os olhos fariam.
Softwares
Existem alguns softwares que trabalham bem com processamento HDR, como o Lightroom (o que mais uso), o Photoshop, o Photomatix e, para quem usa Canon, o próprio software da câmera, o Canon DPP, que faz um trabalho muito bom também. Vai do gosto, do bolso e da disponibilidade de exploração.
Para quê eu vou usar HDR, se eu não fotografo Natureza?
Sim já ouvi isso, mas a questão é que essa técnica é utilizada em muitos segmentos, como por exemplo:
- Eventos - Você não vai fotografar a Igreja no casamento? Faça de preferência com a igreja vazia, mas se não for possível, use longa exposição e Bracketing, para conseguir as melhores amostras de iluminação. Dê esse presente ao Noivos. O mesmo vale para salões de festas adulto/infantil/corporativo.
- Real Estate (Imobiliário) - Quer imagem melhor para se vender/alugar um imóvel, do que uma foto em que a área interna esteja em harmonia com a área externa? Isso vale para fotografar museus e afins.
- Natureza, é claro
- Ensaio Indoor/Outdoor - Sim, eu já usei HDR em um ambiente externo sem o casal e depois pedi para o casal entrar na cena, fazendo uma última amostra com eles e com flash, para compôr uma ambientação no software.
- Arquitetura - principalmente em ambientes fechados, com iluminação artificial, é fundamental a utilização de HDR para captação de todos os detalhes de um ambiente, e decidir depois, na pós produção, como trabalhar essa iluminação. Exemplos de trabalhos de fotografia de Arquitetura, em que eu uso HDR em todo o trabalho, estão aqui no meu portfólio de Arquitetura.
Quando falamos em limitação dos sensores, sinto uma certa injustiça, pois sempre leio que os olhos e o cérebro humano resolvem essa Latitude muito bem, mas até hoje não vi ninguém considerar o fato de que nunca olhamos para todo um cenário, uma composição, mas sempre olhamos para alguma área e nossas pupilas ajustam rapidamente a Abertura de nossas objetivas naturais, os olhos, de acordo com a fotometria pontual.
O que tentamos fazer na fotografia é registrar um cenário mais amplo, com fotometrias diferentes, em uma só imagem/momento.
Ok, existe a visão periférica também, mas aí já é assunto para uma fogueira.
Tudo o que falamos acima não é, nem de longe, o assunto completo, mas o início do estudo de HDR.
Existem livros enormes sobre o assunto e o que vimos aqui é o ponto de partida, o suficiente para começarem a produzir imagens melhores. Ainda teríamos o Mapeamento Tonal e vários outros assuntos dentro do tema HDR, e dominar esse tema demanda um estudo bem generoso.
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Abs
Câmera: Canon 6D
Objetiva: Vivitar 28mm Manual
Abertura: Provavelmente f/11
Horário: Próximo ao pôr do Sol
Fotos: Marcus Azevedo