Imagem capa - Fotografia HDR - Quebrando o Mistério por Marcus Azevedo
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Fotografia HDR - Quebrando o Mistério

Inaugurando o Blog, vamos falar de HDR.


Outro dia desses, mostrando algumas novas imagens ao meu impressor Fine Art, estávamos conversando sobre a forma de utilizar HDR, sem os excessos que geralmente vemos em finalizações HDR, por aí afora.
Esse é um assunto do qual gosto e estudo muito, e que tive ótimas oportunidades de experimentar nos últimos tempos, então, d
epois de finalizar dezenas de imagens em HDR nos últimos tempos, em especial para meu próximo projeto, resolvi trazer um pouco mais sobre esse assunto, nesse post inaugural.


Mas afinal o que é e para que serve esse tal de HDR?

HDR é uma sigla para High Dynamic Range e o conceito foi criado para resolver uma limitação que os sensores digitais possuem (o filmes também, um pouco menos, mas possuem) com relação à leitura de Latitude de Exposição.

A Latitude de Exposição é a "distância", em Pontos de Luz, entre a sombra mais escura e a luz mais clara, em uma Composição.


Vamos imaginar um cenário onde o HDR é mais necessário: Um ambiente fechado com uma janela para uma área externa, em pleno dia.

A iluminação de fora do ambiente estará bem mais clara do que a iluminação interna, mesmo em um ambiente envidraçado. 

Se fizermos a fotometria na parte interna, a iluminação da parte externa muito provavelmente vai "estourar" e o sensor vai gravar um borrão branco, com pouca ou nenhuma definição. O inverso acontece se fizermos a fotometria na parte externa, colocando essa na exposição correta e escurecendo os detalhes internos.


Isso acontece porque a leitura dessa distância, a Latitude, não é feita de forma tão ampla pelo sensor, e o fotógrafo muitas vezes precisa fazer uma escolha, mirando um meio termo.

Para quem usa o Lightroom ou o ACR do Photoshop, pode por exemplo clarear as sombras e escurecer as altas luzes, para chegar a um equilíbrio. Mas existe um problema aqui, que é o fato de que, nos extremos, nem sempre teremos informações boas e um exemplo disso é a quantidade de ruído/grãos que surgem ao tentarmos clarear demais uma área de sombra. Assim, se não houver outro jeito, vale a tentativa, mas o ideal é, sem dúvida, a captação das exposições corretas, para fusão posterior em um software.

Para isso, as câmeras possuem um recurso fundamental: O Bracketing.


O Bracketing é uma configuração em que calculamos a quantidade de fotos e as distâncias em pontos de luz entre cada foto. O padrão para iniciar no estudo é utilizar 3 fotos, sendo o mais comum configurar para distâncias de 1 ponto, ou seja:

- Exposição 0 (a normal, que contempla os detalhes da maior parte da composição)

- Exposição -1 ponto (mais escura, para captar os detalhes das altas luzes)

- Exposição +1 ponto (mais claro, para captar os detalhes das sombras).


Lembrando que, em algumas câmeras (no meu caso, Canon), o Bracketing não funciona em modo Manual, então eu utilizo em modo Criativo de Prioridade de Abertura. Dessa forma, a Abertura se mantém a mesma (profundidade de campo) e as fotos serão feitas alterando a Velocidade de exposição, para mais ou menos luz.


Sim, é perfeitamente possível fazer o Bracketing na mão, em modo Manual, alterando a Velocidade em pontos diferentes e eu encorajo vocês a tentarem isso.

Outros intervalos também são possíveis, variando (na 6D) entre -3 e +3 pontos, num total de até 7 (2, 3, 5 e 7) fotos automáticas, mas...  nada nos impede de fazer inúmeras amostras com intervalos de 1/3 de ponto. A questão é que, muitas vezes será desnecessário, além de consumir espaço em HD e gastar mais tempo para processar as amostras. 

Comecem com 3 amostras, a 1 ponto de intervalo, evoluam para 5 amostras, a 2/3 de intervalo.


Para visualizar melhor, o exemplo abaixo segue esse padrão básico, de 3 amostras com 1 ponto de intervalo. 

- Superior Esquerda: Exposição 0

- Superior Direita: Exposição -1 ponto

- Inferior Esquerda: Exposição +1 ponto

- Inferior Direita: Fusão original das 3 imagens

- Capa do Post: Fusão finalizada para início do trabalho de pós produção




Observem que, nesse caso específico, não chegamos a perder completamente detalhes de sombras e altas luzes na Exposição 0. Isso acontece porque a Latitude não está tão ampla e não chega a ser um grande problema.

Mesmo assim, é um bom exemplo.

Notem que na Exposição -1 temos um céu com mais detalhes das nuvens acima (altas luzes) e menos detalhes do deck de madeira (sombra), enquanto que em Exposição +1, temos o inverso.


O que os softwares fazem é, basicamente, alinharem as amostras e analisar quais detalhes foram perdidos para descartá-los, utilizando apenas os detalhes definidos. Assim, o software aproveita os melhores detalhes das 3 amostras, nos permitindo trabalhar na pós-produção da fusão, como no caso da fusão acima, em que temos os detalhes da exposição média, do céu mais escuro e do deck com mais ou menos a mesma luz da exposição 0, que traz detalhes suficientes.

Um detalhe muito importante para se fazer uso do HDR é que, para que facilitar o trabalho de "alinhamento" das amostras pelo software, é interessante a utilização de um tripé, para que as amostras tenham a mesma composição. Na falta de um, pode-se apoiar a câmera em algum objeto que tenha a altura e angulação necessária para a composição. Outra forma, se a Velocidade média de exposição estiver confortável, é fazer as amostras na mão mesmo, se apoiando em alguma parede, poste, etc.


Outro aspecto importante a considerar é que Luz é Luz, e Sombra é Sombra. O que torna artificial muitos trabalhos com HDR, é o fato de muita gente querer colocar Luz e Sombra na mesma intensidade de luz.

O grande mote do HDR é colocar a Luz e a Sombra em intensidades compatíveis com sua natureza, com detalhes suficientes para que possam ser apreciados, parecido com o que os olhos fariam.


Softwares
Existem alguns softwares que trabalham bem com processamento HDR, como o Lightroom (o que mais uso), o Photoshop, o Photomatix e, para quem usa Canon, o próprio software da câmera, o Canon DPP, que faz um trabalho muito bom também. Vai do gosto, do bolso e da disponibilidade de exploração.


Para quê eu vou usar HDR, se eu não fotografo Natureza?
Sim já ouvi isso, mas a questão é que essa técnica é utilizada em muitos segmentos, como por exemplo:

- Eventos - Você não vai fotografar a Igreja no casamento? Faça de preferência com a igreja vazia, mas se não for possível, use longa exposição e Bracketing, para conseguir as melhores amostras de iluminação. Dê esse presente ao Noivos. O mesmo vale para salões de festas adulto/infantil/corporativo.

- Real Estate (Imobiliário) - Quer imagem melhor para se vender/alugar um imóvel, do que uma foto em que a área interna esteja em harmonia com a área externa? Isso vale para fotografar museus e afins.

- Natureza, é claro

- Ensaio Indoor/Outdoor - Sim, eu já usei HDR em um ambiente externo sem o casal e depois pedi para o casal entrar na cena, fazendo uma última amostra com eles e com flash, para compôr uma ambientação no software.

- Arquitetura - principalmente em ambientes fechados, com iluminação artificial, é fundamental a utilização de HDR para captação de todos os detalhes de um ambiente, e decidir depois, na pós produção, como trabalhar essa iluminação. Exemplos de trabalhos de fotografia de Arquitetura, em que eu uso HDR em todo o trabalho, estão aqui no meu portfólio de Arquitetura.


Quando falamos em limitação dos sensores, sinto uma certa injustiça, pois sempre leio que os olhos e o cérebro humano resolvem essa Latitude muito bem, mas até hoje não vi ninguém considerar o fato de que nunca olhamos para todo um cenário, uma composição, mas sempre olhamos para alguma área e nossas pupilas ajustam rapidamente a Abertura de nossas objetivas naturais, os olhos, de acordo com a fotometria pontual.

O que tentamos fazer na fotografia é registrar um cenário mais amplo, com fotometrias diferentes, em uma só imagem/momento.
Ok, existe a visão periférica também, mas aí já é assunto para uma fogueira.


Tudo o que falamos acima não é, nem de longe, o assunto completo, mas o início do estudo de HDR. 

Existem livros enormes sobre o assunto e o que vimos aqui é o ponto de partida, o suficiente para começarem a produzir imagens melhores. Ainda teríamos o Mapeamento Tonal e vários outros assuntos dentro do tema HDR, e dominar esse tema demanda um estudo bem generoso.


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Abs


Câmera: Canon 6D

Objetiva: Vivitar 28mm Manual

Abertura: Provavelmente f/11

Horário: Próximo ao pôr do Sol

Fotos: Marcus Azevedo